É fato que a pandemia de covid-19, desde seu início e até hoje, contribui para o aumento de problemas psicológicos e comportamentais da população.
Seja pelo isolamento social, o cenário de incerteza em relação a doença, o número de mortes e o anseio pela vacina e pela volta à rotina normal, casos de depressão e ansiedade tiveram índices elevados em 2020, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Um estudo realizado pela Universidade de Ohio (EUA), no ano passado, apontou também que o Brasil liderava em casos de ansiedade e depressão durante a pandemia, em comparação a outras 10 nações.
No início da pandemia, a humanidade precisou se deparar com uma realidade sem precedentes em nossa história no Planeta e não foi diferente aqui no Brasil.
Muitas pessoas tiveram que se adaptar ao isolamento social, ao trabalho remoto e as limitações gerais. Passados pouco mais de dois anos, com o avanço da vacinação e a queda no número de casos, as atividades tendem a voltar ao “antigo normal”, mas que também podem implicar em mais adaptações, principalmente para quem ainda não se sente confortável em flexibilizar totalmente a vida e conviver com o mundo externo por completo.
Para Ione Aparecida Xavier, psicóloga, docente da Facens, neste caso, é nestas proporções que vivemos no século XXI é um evento que gera muito estresse, principalmente no que se refere às condições precárias de atendimento à saúde com a falta de oxigênio, falta de profissionais nos hospitais ou sobrecarga de trabalho para os que ali estavam na linha de frente, sem contar as vidas perdidas, como aconteceu aqui no Brasil, impactando a rotina e a forma de viver e ver a vida.
“Claro, que essa percepção depende de cada indivíduo que, quanto mais fragilizados ou inseguros, podem apresentar mais resistência ou medo neste momento do retorno as atividades”, diz Ione Aparecida Xavier.
A dica da psicóloga é realizar um planejamento para este retorno, adequar comportamentos e sentir os sinais conforme avança nas atividades diárias.
“Vale lembrar que pode ser um processo lento, mas cada um deve levar o tempo necessário para se sentir totalmente seguro novamente em qualquer ambiente, desempenhando qualquer atividade. Esta subjetividade na adaptação também deve ser considerada a partir da forma como cada um funciona, biologicamente falando, pois temos que considerar que nosso cérebro permaneceu por mais de dois anos sem determinados estímulos e rotinas que lhe eram comuns em termos de comportamento aprendido e agora precisa se adaptar a uma nova realidade. Um exercício muito importante para nossa saúde mental é não se cobrar tanto para alcançar um objetivo, entender que cada tem um tem o seu tempo”
explica a especialista.
Por onde começar?
A psicóloga, docente da Facens, orienta começar frequentando espaços mais abertos, com atividades relacionadas diretamente ao bem-estar.
“Pegar um sol, sentar e ler um livro ou, simplesmente escutar músicas, fazer atividades e exercícios ao ar livre em parques ou praças mais tranquilas ou em horários mais vazios, procurando fazer uma atividade por vez, sem pressa, podem ser ótimas alternativas para este início”, afirma.
Porém, há também a retomada das atividades do dia a dia que são inevitáveis, como retorno ao escritório ou às aulas. Neste caso, Ione orienta, caso o indivíduo não se sinta confortável, manter as medidas sanitárias recomendadas desde o início da pandemia – distanciamento e uso de máscara e álcool em gel.
“Não há problema algum em preferir manter os cuidados, mesmo que as demais pessoas do ambiente tenham optado por não usar máscara ou não manter o distanciamento. Priorize sua saúde mental e esteja bem consigo mesmo”, finaliza a psicóloga.
É normal que, para aqueles que sofrem com ansiedade ou depressão, essa transição seja ainda mais desafiadora.
O acompanhamento regular com um profissional de psicologia é fundamental para ajudar nesses casos, até o momento em que a pessoa possa conduzir a sua própria vida com autonomia e a ter uma vida mais saudável.