Por Lucas Leandro | Bibioteca Facens
Em 1960, o Brasil encontrava-se em total estado de ebulição literária, com nomes como João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Carolina Maria de Jesus, Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto, Machado de Assis e Mário de Andrade encabeçando alguns dos movimentos artísticos mais importantes da nossa história.
Por conta disso, a União Brasileira dos Escritores (UBE), que contava com Jorge Amado como presidente, decidiu, naquele mesmo ano, criar o 1º Festival do Escritor Brasileiro. Devido ao evento e ao prestígio que nossa literatura ganhara internacionalmente, o ministro da Educação e da Cultura da época, Pedro Paulo Penido, instituiu a data 25 de julho como Dia Nacional do Escritor
Hoje, quase 70 anos depois, o cenário literário brasileiro ainda permanece como um dos mais férteis e diversos do mundo, com autoras e autores como Conceição Evaristo, Itamar Vieira Junior, Raphael Montes, Angélica Freiras, Thalita Rebouças, Paula Pimenta, Geovani Martins, Jarid Arraes e Jeferson Tenório entre alguns dos principais nomes da cena.
Essa data é muito simbólica entre leitoras, leitores, escritores e escritoras do Brasil, não somente pelas celebrações e honrarias aos grandes mestres da nossa literatura, mas, também, traz diversas reflexões pertinentes ao trabalho de autores e autoras, num nível amador ou profissional, no que tange a produção e a divulgação de seus trabalhos, assim como questões legais.
Se por um lado, o país enfrenta uma crise dos mercados editorial e literário, com gigantes como Saraiva, Livraria Cultura, Riddel e Grupo Abril declarando falências, por outro, a autopublicação digital tem dado cada vez mais espaço a escritores e escritoras que, há alguns anos, seriam ignorados por um mercado tradicionalista e elitista.
Embora a autopublicação seja uma poderosa aliada dos artistas iniciantes, ela não está isenta de problemas, especialmente, os relacionados às questões legais. Num tempo onde todo texto está sujeito aos comandos CTRL+C + CTRL+V, obras podem ser republicadas sem consentimento dos autores originais, em particular, os independentes, que são os mais vulneráveis ao plágio. Alguns dos casos mais famosos na literatura mundial envolvem pessoas como Paulo Coelho e J.K. Rowling, outros mais conhecidos em nichos específicos, como o caso de Cristiane Serruya, que foi acusada de plagiar trinta e cinco livros de 24 autores, duas receitas e dois artigos de jornal.
Mesmo com mercado acirrado e permeado por fobias e ismos que tanto assolam nossa sociedade, mesmo que autoras e autores encontrem-se cercados por livrarias e editoras que fecham e abrem e fecham novamente, mesmo com a desvalorização constante da arte escrita – mesmo com tudo isso (e até mais), nós, escritores, sempre encontramos um jeito, um caminho em tela e um teclado, ou em um papel e uma caneta, ou com um carvão e uma parede, enfim, encontramos uma maneira de criar um mundo novo do zero, de desnudar uma realidade, denunciar uma circunstância, atentar para condições e cenários, relevar, investigar um cotidiano banal.
Não importa se for num grande sertão entre veredas, ou em um quarto ao comer uma barata, ou com três meninas durante a ditadura militar ou na favela do Canindé: nós estamos, estivemos e estaremos sempre por aqui, te encantando, te aterrorizando, te consolando ou só te divertindo.