Primeiramente, precisamos saber o que é o daltonismo. Será que todos os que possuem essa deficiência visual podem contar com a ajuda de aplicativos e de outras formas de inovação?
O daltonismo é uma doença ocular em que algumas células da retina (porção interna do olho) estão ausentes ou não funcionam normalmente.
Sendo assim, é caracterizada pela dificuldade de discriminar cores, principalmente verde e vermelho, afetando quase que exclusivamente homens (97% dos casos), por herdarem a doença da mãe (portadora assintomática).
Em uma pessoa daltônica, os cones responsáveis pela captação das cores, simplesmente não funcionam como deveriam; o termo abrange uma série de possíveis “defeitos” na visão.
As formas mais comuns de daltonismo hereditário são as distorções de percepção do verde e do vermelho. Os daltônicos com defeitos genéticos são chamados de dicromatas: eles possuem apenas dois fotorreceptores funcionais.
Este problema é, na verdade, bem simples. Você se lembra que o cérebro compara a força com a forma sobre cada tipo de cone responde à cada tipo de comprimento de onda?
Agora apague uma dessas curvas do gráfico de resposta fotorreceptora da sua mente. Você verá como o cérebro perde um grande número de informações.
Na grande maioria das vezes, a doença é causada por uma alteração genética no cromossomo X (transmitido da mãe para o filho). Assim, a pessoa nasce com essa condição genética.
No entanto, há casos raros em que a dificuldade de visualizar as cores se desenvolve ao longo do tempo.
Portanto, não há cura para o daltonismo porque a alteração celular é genética e definitiva. O que é possível, são correções que podem ajudar aos portadores dessa deficiência a enxergarem novamente as cores.
Quando se trata de diagnóstico de daltonismo, segundo estudos a detecção, o diagnóstico pode ser feito com testes muito simples, por meio de figuras que misturam cores e formas, formando números.
Pessoas sem a doença verão os números normalmente e sem dificuldade. Pessoas com daltonismo não enxergarão os números, ou verão números diferentes.
Este teste chama-se “Ishihara”, e está disponível na internet e nos consultórios oftalmológicos. Você pode verificar aqui mesmo se é daltônico fazendo o teste e observando a figura abaixo.
Teste de Ishihara
No entanto, embora não haja tratamento, existem várias propostas para ajudar a pessoa que possui daltonismo.
Existem sites que permitem fazer a escolha de cores, proporcionando uma melhor diferenciação de objetos.
Também existem recursos que aumentam o contraste, auxiliando na identificação de formas.
Os impactos que o daltonismo pode causar nas pessoas
O impacto que o daltonismo pode causar nas pessoas portadoras – já que a diferenciação de cores está prejudicada, é que quaisquer atividades que envolvam a necessidade de identificação de cores estão comprometidas, tais como: pilotar um avião, trabalhar em indústria de tintas ou em indústria da moda, pintura automotiva, entre outras.
Ao dirigir veículos, mesmo não diferenciando muito bem o verde do vermelho, no semáforo, o daltônico acaba associando a luz superior ao vermelho, a intermediária ao amarelo e a inferior ao verde, tomando as ações necessárias em cada caso.
No entanto, para as demais atividades, o daltônico não apresenta dificuldades, já que acaba se adaptando às situações do dia-a-dia e vive bem.
Como funciona a percepção de cores?
Quando uma pessoa que não tem daltonismo olha para um arco-íris, ela vê toda a gama de cores — do vermelho ao violeta — presente no que chamamos de ‘luz visível’.
Embora cada cor represente uma onda luminosa, nossos olhos não contêm detectores específicos para cada uma dessas ondas.
O espectro eletromagnético da luz visível
Na verdade, nossas retinas só possuem três tipos de células sensíveis às cores: elas são conhecidas por cones.
Essas células são neurônios especializados que enviam sinais elétricos quando expostos à luz. O problema é que eles não são muito precisos: um cone é sensível a uma vasta gama de cores.
Mas quando nosso cérebro coleta e junta as informações reunidas pelos três tipos de cones, ele é capaz de identificar diferentes tons de uma mesma cor.
É assim que o processo funciona: os cones contêm um pigmento fotossensível que reage às ondas luminosas de um certo segmento do espectro.
Este fotopigmento é levemente diferente em cada cone, tornando-os sensíveis à luzes que pertencem a diferentes partes do espectro.
Podemos chamá-los de cones vermelho, verde e azul, mas é mais adequado dizer que cada tipo detecta ondas luminosas longas (L), médias (M) ou curtas (C).
Para ver uma cor, nosso cérebro tem que juntar as informações dos cones L, M e C para comparar a força do sinal lançado por cada tipo de cone.
Vejamos a cor de um lindo céu aberto, localizado no gráfico acima pelo comprimento de onda 475 nm.
Os cones C têm a reação mais forte a esse comprimento de onda, mas os cones vermelhos e verdes também detectam essa luz.
É a diferença entre esses sinais que faz nosso cérebro dizer “isso é azul!”. Cada onda luminosa corresponde a uma diferente combinação de sinais de dois ou mais cones: um código ternário que permite que o cérebro enxergue milhões de tons.
Para ver uma cor, nosso cérebro tem que juntar as informações dos cones L, M e C para comparar a força do sinal lançado por cada tipo de cone.
Cada onda luminosa corresponde a uma diferente combinação de sinais de dois ou mais cones: um código ternário que permite que o cérebro enxergue milhões de tons.
Óculos especiais podem ajudar os daltônicos
A descoberta de um óculos especial que poderia ajudar os daltônicos a voltar a enxergar surgiu por acaso.
Foi durante uma partida de frisbee com um amigo, em Santa Cruz (EUA), que o engenheiro de materiais Don McPherson descobriu, que uma de suas criações era capaz de corrigir a percepção de cores receptores de daltônicos, como conta reportagem publicada no site “Smithsonian.com”.
McPherson é especialista em pesquisa de lentes e, no momento da partida, usava um par de óculos que havia desenvolvido para médicos utilizarem em cirurgias a laser.
O objeto permitia aos cirurgiões diferenciar claramente o sangue dos tecidos durante seus procedimentos, porque as lentes eram capazes de absorver grande quantidade de luz.
Por causa do efeito das lentes na visão e devido ao design atraente que os óculos possuíam, tanto cirurgiões quanto o próprio McPherson começaram a usar os óculos fora do ambiente de trabalho, substituindo os óculos de sol.
“As lentes faziam com que todas as cores parecessem incrivelmente saturadas. Faziam o mundo parecer muito brilhante”, diz.
Durante o tal jogo, em uma tarde do ano de 2005, o amigo de McPherson, que tem daltonismo, pediu os óculos emprestados, por mera curiosidade. Ao colocá-los no rosto, espantou-se com o que viu.
“Consigo enxergar os cones!”, disse, referindo-se aos cones de trânsito laranjas que estavam na rua. Pela primeira vez, ele conseguia distinguir as cores do cone das cores da grama e do concreto ao redor.
Diante do deslumbramento do amigo com os óculos no rosto, a conclusão de McPherson foi rápida.
As mesmas lentes usadas para absorver as cores do raio laser poderiam ser usadas para outro propósito: corrigir a luz para que daltônicos pudessem enxergar cores. Em seguida os estudos mais aprofundados e focados no daltonismo começaram.
Como a percepção de cor é basicamente uma questão de intensidade, isso levanta uma questão bem óbvia: seria possível restaurar a percepção de cor manipulando a proporção de luz a qual um daltônico é exposto?
Como visto na inusitada partida de frisbee, este fato realmente aconteceu. Então os pesquisadores McPherson e Schmeder decidiram descobrir se as propriedades incomuns dessa lente poderiam ser utilizadas em óculos voltados para daltônicos.
“Eu criei um modelo matemático que nos permite simular a visão de uma pessoa com algum tipo de daltonismo”, disse Schemeder ao Gizmodo. “O que nós estamos perguntando é: se o olho de um daltônico, que possui certa estrutura, é exposto à essas informações espectrais, como isso altera sua percepção geral de cores?”.
Com os resultados dos modelos propostos, Schmeder e McPherson desenvolveram uma lente que filtra certos fragmentos do espectro eletromagnético; regiões que correspondem à áreas de alta sensibilidade dos cones M, L e C.
Foram removidos certos comprimentos de onda que correspondem à região com maior sobreposição de sensibilidade e ao fazerem isso, foi criado uma barreira entre esses dois canais de informação da visão.
Os pesquisadores não afirmam que suas lentes irão ajudar os dicromatas, aquelas pessoas que não possuem cones M ou L.
Eles também não afirmam ter encontrado uma cura. Na realidade, o produto é definido como um “dispositivo de assistência”, um equipamento que irá ajudar os tricromatas anômalos — aqueles com cones M ou L que não captam o espectro de ondas luminosas correto — a enxergarem cores no espectro vermelho-verde.
Muitos usuários relataram mudanças drásticas em suas percepções de cor durante os testes dos óculos. “Todos os verdes e vermelhos ficaram mais intensos”, disse um usuário anônimo durante uma das fases de testes.
“Na verdade, quase todas as cores parecem mais intensas. O mundo fica muito mais interessante visualmente”. Outro usuário escreveu: “Eu nunca imaginei que ficaria tão emocionado com a habilidade de ver cores antes tão difíceis de diferenciar de forma vívida”.
Mas alguns usuários não se impressionaram. “Eles não são piores que óculos de Sol normais algumas cores ficam mais destacadas, é verdade, mas não do jeito que eu esperava”, disse uma pessoa que testou o óculos.
Quer os óculos estejam expandindo as cores do espectro verde-vermelho ou quer eles estejam criando um mundo mais saturado e com mais contraste e brilho, não há dúvida de que a tecnologia está ajudando alguns daltônicos.
O mundo das cores é, por definição, subjetivo. Mesmo entre aqueles que enxergam “normalmente”, não há como saber se nossos cérebros interpretam as ondas luminosas da mesma forma.
Um bom exemplo disso é o vídeo da cor do vestido se era “branco e dourado ou azul e preto” que circulou nas mídias sociais em 2018.
Nós presumimos que as cores são universais, porque nós conseguimos distinguir uma da outra e nomeá-las segundo essas distinções. Se um par de óculos pode ajudar um daltônico a fazer o mesmo, independente se essa tecnologia cura ou não sua deficiência, nós teremos uma motivo a menos para ver essa condição como uma desvantagem e sim motivação para alcançar algo melhor!
Artigo: Professor Vasques