Conheça a história do Alumni Facens, Paulo Moretti Junior, o engenheiro que passou por muitas áreas e não virou suco!
Mas, antes de você mergulhar na jornada do Paulo, você sabe de onde veio essa expressão?
Diz a lenda que, certa vez em São Paulo, um engenheiro inaugurou uma lanchonete na Avenida Paulista e a batizou com “O engenheiro que virou suco”. Muitos contam que esse engenheiro passou por muitos caminhos em sua vida profissional, mas por fim, não alcançou o sucesso que ele desejava.
A expressão então ficou marcada e foi passada a diante no mundo dos engenheiros. Eles não queriam virar suco! Talvez, nenhum profissional queira, todos almejam o sucesso, seja lá ele qual for!
Agora que estamos na mesma página, Paulo segue com a sua história 🙂
Meu nome é Paulo Moretti Junior, sou sorocabano, nasci em 1959, porém cresci na cidade de São Paulo, para onde minha família mudou-se quando eu tinha dez anos. Vou contar um pouco da minha história para que todos vejam como as coisas podem se alterar na vida de um profissional de engenharia.
Terminei o então chamado Curso Colegial em 1977 e em seguida prestei vestibular. Venho de escola pública, fiz um cursinho semi-intensivo no Colégio Objetivo da Av. Paulista e meu sonho era ser geólogo, portanto, prestei FUVEST e queria USP. Porém veio aí a primeira mudança. Fui relativamente bem no vestibular, mas fracassei em química, matéria até hoje misteriosa para mim. Acabei sendo classificado em segunda opção para Engenharia Civil na FACENS, em Sorocaba. Um problema, pois, como dizia Martinho da Vila em samba famoso: “a faculdade é particular”! Como vou pagar?
Conversei com o meu saudoso pai e este disse que bancava. Sou filho único e isso ajudou as coisas, assim, abdiquei do meu sonho de ser geólogo e fui enfrentar engenharia civil na cidade onde nasci. Como essa decisão demorou uns dias, acabei perdendo o prazo da FACENS, porém para minha sorte, houve uma desistência e fiquei com a última vaga daquele ano. Na época o curso era anual e havia apenas 200 vagas por ano – meu número de matrícula é 78200 (hoje RA).
Cursei então a Engenharia Civil, vivi anos em república (aliás, o melhor período de minha juventude) e colei grau pelas mãos do nosso Diretor e amigo Fabio Beldi, em dezembro de 1983. O Brasil vivia o início da “década perdida” e, após estágio na Prefeitura de Sorocaba, o qual consegui através do mestre Adalberto Nascimento (também saudoso), fiquei um tempo sem emprego. Contudo, por indicação de um amigo de meu pai, meu querido “tio” Ernesto Delgado, consegui emprego na Diagonal Comercial e Construtora e fui trabalhar para a FEPASA em obras de drenagem na remodelação da estrada de ferro que liga as cidades de Mairinque a Campinas, principal ligação ferroviária para o Porto de Santos, antiga via E.F. Sorocabana.
Em 1985, meu pai me ajudou novamente e, através do seu amigo, o então Secretário Almir Pazzianotto Pinto, indicou-me para um cargo de engenheiro júnior na EMURB e fui trabalhar no décimo quinto andar do Prédio Martinelli em São Paulo sob administração do Prefeito Mario Covas, que depois foi governador do Estado.
Naqueles dias era assim, um bom político amigo e as coisas se ajustavam. Melhor está hoje, apenas com concurso. Como emprego político só perdura se o padrinho ganhar a eleição, o meu durou pouco, e no início do ano seguinte fui “vassourado” pelo novo Prefeito, O ex-presidente do Brasil, Sr. Jânio Quadros. Fui demitido num dia, porém com a debandada, eu estava fazendo sozinho as medições das obras. Assim, meu chefe pediu ajuda, e cancelaram a minha demissão até que terminei os trabalhos dias depois e aí não teve jeito (…) está tudo registrado na minha CTPS.
Parti, então, em fevereiro de 1986, para o Paraná, onde meu primo Engº. Joeli Gomes Pinheiro tinha uma empresa do ramo de consultorias técnicas (Tecon Técnica e Consultoria Ltda.) com sede na adorável cidade de Curitiba. Ali fui trabalhar com projetos rodoviários e fiscalização de obras e consolidei-me como engenheiro civil. Aprendi muito e tomei amor pela profissão, realizando-me como engenheiro projetista de estradas.
Porém, era ainda a década perdida [anos 1980], e um dia a empresa viu-se sem obras e eu não me sentia bem em ganhar sem trabalhar. Comecei a procurar saídas. Da Gazeta do Povo, principal jornal curitibano, recortei um anúncio para uma empreiteira da cidade de Cascavel, buscando engenheiro para uma obra de construção rodoviária em Passo Fundo – RS. Virei o anúncio e havia outro, do lado oposto da página, da Shell Brasil contratando gente para vendas. Não exigiam experiências anteriores, apenas solicitavam boa aparência, o que também não era o meu caso (…). Bom, eu havia prestado um miniconcurso em Campinas para ser engenheiro da Shell, pouco antes de me formar pela FACENS. Achei que não tinha muitas chances e, confesso, torcia o nariz para vendas. Mesmo assim enviei os dois currículos. Era abril de 1989.
Da Redram (a empreiteira, do primeiro anúncio) nunca tive resposta, mas a Shell, por telegrama, me chamou para entrevistas. Depois de três entrevistas individuais e duas coletivas, acabei contratado. Na verdade, acharam que fui bem nas entrevistas e queriam-me para um cargo na área de construção de postos, porém não havia vaga, então, sob protestos, fui para a assistência técnica em lubrificação industrial a automotiva. Começou aí a segunda grande mudança!
Com treinamentos intensivos e ajuda de meus colegas, tornei-me um misto de engenheiro mecânico e químico, e iniciei a maior experiência da minha vida – vinte anos trabalhando para a melhor empresa do mundo, as outras que me perdoem (…)! Trabalhei e morei em Santa Catarina, Curitiba, retornei a São Paulo indo viver em São José dos Campos e depois em Louveira, pertinho de Jundiaí. Tive também uma boa experiência trabalhando no Sul e no Litoral fluminenses, administrando franquias de distribuição de lubrificantes.
Comecei a entender de máquinas, de motores, de caixas de engrenagens, e virei um ótimo palestrante. Ministrava palestras sobre lubrificação em indústrias e transportadoras – caminhões e ônibus para mecânicos e para engenheiros! Entendia também de fluidos de corte para usinagem de metais, enfim, era um engenheiro civil fora da área (…). Anos depois fui para o Mercado Comercial, onde atendia grandes consumidores de combustíveis e cuidei de grandes contratos, como Votorantim, Cebrace, Parmalat, Radici, Klabin e outros. Minha área chegou a vender vinte mil toneladas por mês – algo muito grande para este mercado, e com faturamento na casa de trinta até quarenta milhões mensais, a valores atualizados! Ainda tive a experiência de, no Vale do Paraíba, administrar a saída da Shell e entrada da Comgás (empresa parceira) com o gás natural. Enfim, vinte fantásticos anos!
Em novembro de 2009 eu estava de volta a Curitiba onde chegamos a um acordo e saí da Companhia. Já fora da engenharia civil há tanto tempo, não me via mais nesta área. Tentei ser corretor de imóveis, mas era muito chato ficar em plantões. Com o Pedro Braga, ex-colega da Shell, iniciamos uma revenda de linhas telefônicas da Claro e depois da GVT, nas regiões de Sorocaba e de Bauru. Este era um negócio que evoluía bem, mas dependia muito dos humores da Claro e da GVT; acabamos desistindo da GVT e perdendo a concessão da Claro. Foi melhor. isto tudo entre aconteceu 2010 e 2013.
Acontecia aqui a terceira grande mudança: viver por conta própria! Durante este período, até retornei para a Tecon que cresceu e tem um escritório em São Paulo, o qual gerenciei um projeto rodoviário em São Carlos, para a ARTERIS, concessionária de rodovias no interior paulista. Novamente, uma rápida repassagem, de apenas seis meses, pela engenharia civil.
Em 2015 comecei, em Sorocaba, uma sociedade com um amigo, Ramsés Vaz, genro de meu primo e técnico experiente no ramo, um negócio de manutenção e instalações no setor de telefonia – Telecom. Nasceu a ARGURIA TELCOM, nome inventado por ele há anos e que decidimos adotar. É a quarta grande mudança e está ainda acontecendo: depois da engenheira civil, mecânica e vendas, agora trabalho no setor eletrônico, de telecomunicações.
Estamos evoluindo com dificuldades, mas evoluindo. Prestar serviço é um ramo interessante, tem mês que se recusa serviços e tem mês que a gente fica parado (…). Mas vamos sobrevivendo – somos terceirizados de empresas grandes que têm contratos diretamente com as Operadoras (Vivo, Claro, Tim, Oi) e nos subcontratam para algumas atividades. O maior problema são os prazos dilatados para recebimento, temos de desembolsar antes pra receber depois, portanto absorve caixa. Mas dá um bom retorno – cada serviço em si rende muito bem, só precisamos conseguir maior regularidade, mas este parece ser um problema de todos no setor. Às vezes tem-se a sensação de voltar para trás, mas na iniciativa privada é assim mesmo. Não dá para desanimar (…). Jamais!
Enfim, essa é minha história: sou engenheiro que não virou suco, contudo passei e estou passando pelas três principais áreas da Engenharia: Civil, Mecânica e Elétrica.
São as voltas da vida do profissional. O importante é não ter medo. Você é capaz de realizar muito, basta ter autoconfiança e botar a mão na massa!
Que história bacana, Paulo! Vocês também gostaram? Contem nos comentários!
Não era lenda! Essa lanchonete realmente existiu e realmente se chamada “Engenheiro que Virou Suco”
A Lanchonete pertenceu a Odil Garcez Filho e ficava na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, bem próximo à esquina com a Avenida Paulista
O nome foi inspirado em um filme brasileiro que teve relativo sucesso em 1982 chamado “O Homem Que Virou Suco”
A lanchonete fechou em 1987 e Odil passou a trabalhar vendendo veículos. Odil faleceu em 2001